sexta-feira, 9 de novembro de 2012

UM ENORME E FATÍDICO "NADA"


Fotografia por - Joarez Costa Fotos ©
Nos primórdios do novo século severamente atormentado pelo sol torrencial de um verão escaldante em um país nada acolhedor e de rígidas leis impossíveis de serem obedecidas e já exausto pelas incessantes picadas de famigerados e gigantescos  mosquitos sugadores de vida, ali quase sem ar desejando que ao alçar vôo uma ave poderia lhe privilegiar com uma suave brisa, olhos ardendo pelo sal de seu suor que escorria testa abaixo como uma cascata de lava vulcânica abrindo passagem por suas pestanas tórridas pela exposição continua ao sol, garganta ríspida e galopante de soluços espremidos de um som angustiante do movimento do seu pomo a tentar engolir o pouco de umidade salivar.

Ao cair à penumbra do findar daquele dia interminável onde mesmo na absoluta escuridão fazia-se luz o clarear do luar e naquele constante grilar repetitivo e estressante de insetos noturnos a se comunicar em tentativa desesperadora para acasalamento se atirando quase que sem rumo em todas as direções possíveis amparadas apenas com o constante impacto em sua face e ou na pequena e preguiçosa lamparina em um canto estratégico daquele precário quartinho de madeira que mais cheirava a fossa do que um habitat digno de moradia.
Já sonâmbulo e levemente dolorido pela teimosia em manter o vai e vem do peso da cabeça cansada e repetidamente balançante dum lado pro outro por horas a fio na expectativa frustrada de não cair literalmente no sono assombrado como um menino indefeso naquela jaula escura de seus tormentos internos e confusos lesionados pela tortura da solidão momentânea, o sentido então parece flutuar elevando-o num vôo desajustado e sem controle parecendo ver a si próprio a distancia enrijecendo toda musculatura ao tentar sem sucesso se manter ao alto nesta sensação nova estranha e ao mesmo tempo prazerosa intercalando com aberturas abruptas e repetitivas de suas pálpebras deixando seu Iris se perderem em nenhuma imagem, apenas a escuridão.
Longos e cansativos minutos prolongados pela noção desajustada na falta de um mecanismo marcador que se fazia perder-se no tempo e no espaço como tudo pudesse acontecer num simples piscar de olhos parecendo ser infindável aquele momento, promovendo quase uma exaustão em seu juízo desvalendo-se de tudo, Insignificante num mundo de trevas e decadência sem o menor sopro de esperança que o fizesse soltar as correntes que escarnavam os tornozelos de sua mente avariada pelo cansaço e descrente por seus fracassos.
Um silencio ensurdecedor quebrou a rotina naquela madrugada, como um sugar de tímpanos em uma descida alucinante que fez seu cérebro afogar-se em um precipício completamente acústico isento de qualquer pensamento que o pudesse resgatá-lo daquela liquefação desenfreada; um verdadeiro buraco negro do nada.
Como num grito mudo abre seus olhos por uma visão não alcançada procurando um ponto, uma luz que o amparasse, onde seu corpo e mente fora tomado de pane de coisa alguma, só regenerada segundos depois por sua força interior ainda em pulsação a qual busca de sei onde um ancoradouro e um tanto desajeitado aporta, coração acelerado, pulmões aos solavancos procurando oxigenar o seu espanto, corpo suado e em temperatura elevada ainda dolorido de posições desconfortáveis leva um tempo pra notar que o motivo desse silencio ensurdecedor é de uma eminente tempestade que surge de negras nuvens encobrindo a já fraca luminosidade daquela franzina lua minguante.
Relâmpagos siricoteiam ziguezagueando entre as nuvens clareando em piscas acelerados reluzentes de uma beleza suspeita que preanuncie uma verdadeira batalha conspirada por deuses imaginários da mitologia, sorvendo todo oxigênio a sua plenitude colossal para depois dispará-lo de volta em forma de monstruosos tufões destruidores  munido de força avassaladora da qual  ira deixar impotente o pobre ser perante tamanha demonstração do seu poderio, nessa pausa silenciosa da qual a catástrofe se veste e prepara sua já conhecida devastação nota-se leve brisa refrescante que suavemente acaricia as folhagens trazendo um aroma úmido de sabor da terra acompanhado de respingos gotejantes duma garoa fina e gelada como um orvalho que suaviza o excessivo calor ao qual foi submetido o corpo do pobre ser, deixando-o levemente com a reação de sua pele nessa fusão um arrepio por hora satisfatório e de agrado por suavizar sua sofreguidão no purgatório.
A fúria então se rebela e seus primeiros rebentos lançam ao chão em relâmpagos que rasgam o céu em perpendicular apontamento atingindo com robustez o seu destino deixando feridas ou inertes suas vitimas, acompanhado de um sopro descomunal provindo de pulmões colossais dos quais deixa um rastro de destruição donde passa, senti que era

Momento de reação, mas reagir a que? Era a naturalidade do preanuncio sem tirar nem por era o próprio criador pondo a teste tua criatura em debate a tua criação.
Assovio assustador e o fraco projeto arquitetural do barraco sucumbia a pertinente força de sua potencialidade, pelas frestas e vãos o assovio entoava a musica fúnebre da destruição mostrando que de nada adiantaria nem mesmo a minha oração; bate o desespero então, a impotência de ser um ser tão insigne e delicado vendo as folhas de zinco se entortarem no telhado, as tabuas uma a uma se vergarem diante de tal força insaciável do rugir da tempestade; abraçado a si mesmo procurando proteger e ser protegido enfrenta o inimigo com dizeres invertidos sede a esse amigo naturalmente transformador e renovador de pequenos mundos levanta penhascos e faz buracos profundos seca riachos e modifica meu mundo inunda desertos deixando cicatrizes profundas, mas é de fundamental carência que inveja até a maledicência de seu próprio poder...... Simplesmente arrasta o fraco, derruba o forte e sucumbe o poderoso.
Um “slow motion” de segundos, minutos, horas nem saberia narrar, a cena é forte, mas só quem passa pode aceitar que por motivos perenes a natureza apenas pede passagem pra que as coisas se formem como se deve formar mudando paisagens, lugares e até seu modo de atuar não têm ser que imprima contra ataque que se faça segurar ela simplesmente escolhe como, quando quer passar.
Calmaria aparente depois do estremecer fez com que o dia amanhecesse em silencio de tímidos raios de sol a aparecer, luz que acompanhada do som suave da água em cascata a escorrer denotando o som grave de pingos contínuos em pequenas poças cheias a tremer, pálpebras cerradas e batimentos compassados acompanhavam o som do novo alvorecer, sem teto ou paredes apenas a fragrância do ser, estava salvo enfim... a tempestade passou e nada de mau fez a mim.
Sentiu cheiro de jasmim ou seria da gramínea denominada capim? Abre os olhos definitivamente e se deslumbra com a beleza, sim ... uma beleza estonteante da qual se vê com o coração pois os olhos apenas não conseguem sentir essa emoção.
Do barraco.... nada sobrou, o que tinha dentro então evaporou mas o êxtase de vislumbrar aquela paisagem bucólica de riscos contornados e coloridamente perfeitos levaram o ser a um orgasmo de complacência,  foi quando em um rabisco de olhar deparou o ser com um caco estilhaçado por entre os estrondos de um espelho refletindo o nada, apenas o nada entre o infinito e o pedaço de espelho um enorme e fatídico NADA!
Estava o ser definitivamente sido empenhado no afã da natureza de reciclar e refazer o que era de seu direito, mudar, transformar, modificar.... e só o ser ainda não havia notado que da natureza ele agora fazia parte e mesmo perdendo tudo não teria ele perdido nada, apenas se incorporado ao que a natureza lhe tivera proporcionado....  
O direito do silencio eterno.